Com a chegada da notícia da Pandemia, bruscamente mudamos a nossa rotina e nossos hábitos. Fomos “obrigados” a reorganizar a nossa forma de estar em casa, nossas tarefas, trabalho, relações interpessoais, além da angústia do imprevisível, dos medos acerca do futuro e das consequências. Percebemos, de repente, que fomos postos em contato com questões que antes, estavam abafadas pelo vai e vêm corriqueiro e aparentemente seguro. Não estávamos preparados para lidar com certas situações e questionamentos trazidos à tona nesta condição de isolamento.
Diante desta realidade, as famílias que contavam com algum tipo de suporte para lidar com o cuidado e atenção de seus idosos, sofreram grande impacto e precisaram se reorganizar para acolher e cuidar da melhor forma em casa. Claramente, não é uma situação confortável e pode gerar muitos conflitos, stress, sentimento de culpa, sobrecarga, angústia e sensação de impotência. Mergulhar repentinamente numa situação não planejada como esta, pode ser uma experiência desagradável se não mantivermos o equilíbrio emocional e lidarmos com a realidade da forma mais coerente, prática e consciente possível. Diante disto, vale contar com a ajuda da rede de suporte que estiver ao alcance, pode ser desde uma conversa por telefone com um amigo de família até a atenção de um profissional especializado, há muitos teleatendimentos disponibilizados. Muitas vezes, pequenas dicas e conselhos nos auxiliam a achar novas formas de lidar com uma situação, aparentemente, sem solução, além da sensação de ajuda e acolhimento que tem um valor especial nesses momentos.
A organização de rotina, nestes momentos de caos repentino, é muito importante para não nos perdermos nas tarefas diárias e ajuda a estruturar as atividades do dia a dia oferecendo uma possibilidade maior de aproveitamento do tempo reduzindo consideravelmente a ansiedade causada pela desestruturação da rotina e hábitos anteriores. Com esta organização, há um aumento de chances de contemplarmos a maior parte das tarefas necessárias diminuindo, consequentemente, o sentimento de frustração e, quem sabe, sobrando até um espacinho para um lazer, um descanso ou uma pausa. Aliás, as pausas, podem e devem ser incluídas na listinha dentro da rotina. Vale dar uma espiada nas sugestões das tabelas de organização de rotina que podem ser adaptadas de acordo com os hábitos e características de cada família. No caso dos familiares cuidadores, há uma sobrecarga das funções e cumprir todas as etapas dos cuidados não é algo simples, pois além das demandas físicas e práticas do cuidar, somam-se as questões emocionais e afetivas que emergem ao entrarem em contato maior com seu familiar que outrora era assistido por algum serviço, uma instituição ou cuidador contratado.
Assim, nesta época em que precisamos estar em casa e abrir mão da maior parte dos apoios que tínhamos para darmos conta de todas as responsabilidades e papéis por uma causa maior, precisamos pensar nas perspectivas mais leves para esta vivência e lembrar que é um momento transitório e que em breve voltaremos à antiga rotina. Então, seria oportuno termos centramento e escolhermos as melhores formas de estarmos bem durante este período. Selecionar formas de olhar, de significar, de agir, de pensar e de aproveitar positivamente as experiências que esta pandemia nos trouxe. Os modelos internalizados para vivenciarmos este episódio farão toda a diferença para enfrentarmos a situação presente e plantarmos boas lembranças e aprendizados deste desafio. Aproveitem este tempinho com seus idosos, façam as atividades de forma prazerosa, não há melhor estímulo do que o carinho, afeto e estar perto de quem se ama. O maior potencializador de qualquer estímulo é a afetividade e o significado atribuído para aquele fazer e para aquele momento.
Lidia Midori Maehira – Crefito: 6601-TO